domingo, 28 de agosto de 2016

Cartuchos e Cigarrilhas

*

Parte VI

*


Eu tentei superar tudo o que estava lá do lado de fora e mostrar a mim mesmo que havia mais de um caminho. Quase fiquei parado naquela dúvida de três segundos.  Por fim, quando me dei conta, abandonei a minha casa: ou mais precisamente o terceiro andar daquele prédio fúnebre. Já fazia tempo que nada fazia sentido. Acho que passei muitas horas ali, respirando aquela poeira que entrava pela última janela.

Acho que tudo me confundia: as cadeiras jogadas, o conjunto desordenado do jogo da sala de jantar, a luz intermitente, a penumbra cega. Cadê eu no meio daquilo tudo? Eu tateava pelos cantos, até reconhecer que o reencontro é como se revirar por dentro. E encontrar aquilo que você nem sabia estar procurando. Num outro alguém, talvez. Eu tentava expulsar o sol que insistia em entrar pela janela. Não aceitava intrusos, mesmo que fosse eu mesmo. No fundo, foi só falta de pensar um pouco. Olhar um pouco mais pra baixo. Aceitar que o mundo destruiu meu sorriso inocente. Bagunçou meus cabelos debaixo da boina. Mas eu fui assim mesmo.

Quando decidi foi daquele jeito imperceptível, um tanto cruel até. Saí correndo em disparada, escada abaixo. Os degraus passavam como um filme debaixo dos meus pés. Nem contei os andares, não precisava. Desci numa espiral louca, como um fugitivo cansado de tudo. Eu precisava explicar pra alguém, mas ninguém parecia disponível. Não era contradição, nem insegurança. Era só a ausência do medo de tudo.
Quando me dei conta já estava na rua, a névoa embebia meus passos, meus pés chafurdavam nas poças frias. Fui correndo, virando becos, ultrapassando esquinas. Só parei para encostar naquele beco sujo e escuro perto de casa. Fiquei um tempo assim, olhando para cima. Não havia nuvem nenhuma lá no céu enquanto minha mão tateava meus bolsos. Foi aí que percebi o quanto estava encharcado, ao mesmo tempo em que me perguntava o quanto havia de mim em cada uma daquelas pedras imóveis, o que ficara de mim nas cinzas do meu passado.


Ninguém que passasse por ali entenderia ou me veria com aqueles olhos de quem sabe o que está subentendido. Eu era uma farsa gritando por verdades. Mas naquele momento eu era apenas eu tentando acender um cigarro.

Camila Carelli
Cartuchos e Cigarrilhas

*

Parte VI

*


Eu tentei superar tudo o que estava lá do lado de fora e mostrar a mim mesmo que havia mais de um caminho. Quase fiquei parado naquela dúvida de três segundos.  Por fim, quando me dei conta, abandonei a minha casa: ou mais precisamente o terceiro andar daquele prédio fúnebre. Já fazia tempo que nada fazia sentido. Acho que passei muitas horas ali, respirando aquela poeira que entrava pela última janela.

Acho que tudo me confundia: as cadeiras jogadas, o conjunto desordenado do jogo da sala de jantar, a luz intermitente, a penumbra cega. Cadê eu no meio daquilo tudo? Eu tateava pelos cantos, até reconhecer que o reencontro é como se revirar por dentro. E encontrar aquilo que você nem sabia estar procurando. Num outro alguém, talvez. Eu tentava expulsar o sol que insistia em entrar pela janela. Não aceitava intrusos, mesmo que fosse eu mesmo. No fundo, foi só falta de pensar um pouco. Olhar um pouco mais pra baixo. Aceitar que o mundo destruiu meu sorriso inocente. Bagunçou meus cabelos debaixo da boina. Mas eu fui assim mesmo.

Quando decidi foi daquele jeito imperceptível, um tanto cruel até. Saí correndo em disparada, escada abaixo. Os degraus passavam como um filme debaixo dos meus pés. Nem contei os andares, não precisava. Desci numa espiral louca, como um fugitivo cansado de tudo. Eu precisava explicar pra alguém, mas ninguém parecia disponível. Não era contradição, nem insegurança. Era só a ausência do medo de tudo.
Quando me dei conta já estava na rua, a névoa embebia meus passos, meus pés chafurdavam nas poças frias. Fui correndo, virando becos, ultrapassando esquinas. Só parei para encostar naquele beco sujo e escuro perto de casa. Fiquei um tempo assim, olhando para cima. Não havia nuvem nenhuma lá no céu enquanto minha mão tateava meus bolsos. Foi aí que percebi o quanto estava encharcado, ao mesmo tempo em que me perguntava o quanto havia de mim em cada uma daquelas pedras imóveis, o que ficara de mim nas cinzas do meu passado.


Ninguém que passasse por ali entenderia ou me veria com aqueles olhos de quem sabe o que está subentendido. Eu era uma farsa gritando por verdades. Mas naquele momento eu era apenas eu tentando acender um cigarro.

Camila Carelli

terça-feira, 26 de julho de 2016

“O mundo que se esvazia em gotas, e depois o peso do mundo colado às minhas costas. Existe muito mais além dos devaneios, e das pausas no texto, e também do que a gente julga o tempo todo. A vida acontece, e hoje eu conheço o martírio dos anos que se passam, que se acabam. Tudo pode ser perfeito, contanto que não seja premeditado. Eu vejo luzes e me pergunto se podem me enxergar aqui? A sombra se aproxima, e os meus olhos são um ponto obscuro.


E tudo ainda depende do que você quer ver...”


Camila Carelli
“O mundo que se esvazia em gotas, e depois o peso do mundo colado às minhas costas. Existe muito mais além dos devaneios, e das pausas no texto, e também do que a gente julga o tempo todo. A vida acontece, e hoje eu conheço o martírio dos anos que se passam, que se acabam. Tudo pode ser perfeito, contanto que não seja premeditado. Eu vejo luzes e me pergunto se podem me enxergar aqui? A sombra se aproxima, e os meus olhos são um ponto obscuro.


E tudo ainda depende do que você quer ver...”


Verônica Ventti

sábado, 9 de abril de 2016


I´m Here Now

Now, I´m here and I can´t explain all the things I can´t understand.  The sky is so blue, the wind is so free, the walls are all opening and the breeze is coming to me.

It might be the best place that i´ve ever found out. But now I realized that I can let it go, I have to run and kick my own limits out. Don´t stop, don´t be afraid. Can you leave me alone only for a moment? I need to think about it.

Yeah! That´s all. In a second you´ve gotta be crazy, you´re doing incredible things. Just believe, live creatively, enjoy every place, every step, every date, ‘cause suddenly it all disappears. So, just go! You can do better than that, I´m right about it.

Camila Carelli

Trecho em inglês da série "A Consciência da Nossa Evolução"

sábado, 6 de fevereiro de 2016

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

   
Entre Mundos e Constelações


Parte I

   
É como algo que você nunca imaginou. O ápice dos sonhos nunca antes vividos. E, de repente, está você lá. Pra que viver de mãos atadas se você pode se perder por aí? Risadas  iradas  se rompem  na madrugada, copos são jogados, infinitos passos descompassados em  calçadas irregulares. Identidades trocadas, hoje eu vou tentar ultrapassar o inimaginável. E sedento por histórias trocadas, hoje ninguém vai influenciar meu jeito autêntico de ser.

   Não precisa ter hora certa pra chegar. Não importa quantos minutos você vai demorar pra partir. O tempo agora é termo irresoluto, contanto que você  encontre outro rumo a cada parada. Vai chover, e vai fazer sol também. E o horizonte vai ficar cada vez mais distante. Alguém lá atrás vai pedir pra você esvaziar suas malas. Embarque e desembarque na próxima estação. Caixas de sonhos esquecidas em cada cidade. Um guarda-chuva colorido que corrompe a paisagem branco -e -preta. O sol que se esconde detrás dos prédios enquanto você percorre quarteirões sem ainda encontrar nada. E, por fim, somente partir sem esperar nada, nem ao menos encontrar um destino.

   Você nega, mas existe um mundo de possibilidades no seu interior mais obscuro. Simples caminhos a serem conhecidos. Só falta tirar a  coragem do bolso, dar o primeiro passo, e logo você vai se perguntar como pode ter passado tanto tempo na inércia. São coleções de fotos. Viradas livres na catraca do ônibus. O bater do vento enquanto você corre por  uma alameda qualquer. Tropeços pesados de quem corre sempre descalço. A chuva fina que logo te encharca, enquanto você corre  atrás dos minutos  atrasados. E o tempo atropelando os raios de sol que invadem os vidros da sua janela. Lá fora está tudo um caos: talvez ainda exista alguma melodia que precisa ser escutada. 

   Meia volta de carro, meia volta a pé. Uma volta inteira de bicicleta. Marcar vários pontos no seu próximo roteiro de leste a oeste. Aproveitar  o presente que já está virando passado. Ficar à beira do abismo, e correr sem desespero, sem mágoas. Pra quê dúvidas?  Por favor. Quantas chances acha que vai ter? A força do lado de fora é o que define os limites; agora, o infinito não cabe mais numa só palavra. Enquanto isso, novos bagageiros de experiências estão sendo colocados no vagão das possibilidades de se viver algo melhor.  E calma... Alguém disse que se deve parar agora, mesmo que exista uma vontade maior do que tudo. Os minutos se arrastam, passo a passo como quem desiste da corrida. Olha só, vagarosamente, as nuances das luzes ofuscadas, dos papéis jogados sobre o asfalto. Está tudo tão confuso: acho que tem uma estrela brilhando  sobre nossas cabeças. 

   Momentos de quem pensa sobre o próximo destino. Momentos de quem vive entre mundos e constelações.

Camila Carelli