domingo, 22 de fevereiro de 2015

domingo, 15 de fevereiro de 2015


"A calmaria chegou até ele como uma cruz cravada em seu peito. Foi tudo ruindo vagarosamente, como se provocado por um efeito dominó. Logo não existiam mais as casas, ladeadas por estreitas calçadas, e nem ao menos a balbúrdia dos comerciantes e transeuntes que antes por ali ficavam. Acabaram-se as luzes, a música, e os coretos de domingo. Aquilo sim era uma cidade cinza e adormecida. E assim ele percebia através de seus olhos castanhos, como a paz também podia ser um tanto opressiva, e por vezes, solitária.

Estava ali, parado em pé, quieto, apenas sentindo a brisa correr por seus cabelos, enquanto analisava o imenso silêncio que havia dentro de si. Um silêncio que gritava por socorro. Sentia-se perdido dentro de si mesmo, como se tivessem tirado seu propósito de vida. Vendo tudo aquilo concluiu que se chegara até ali era graças a um milagre. Queria saber para onde tinham ido as explosões, os clarões, o cheiro de pólvora e a cantoria dos fuzis. No fundo, não sabia o que pensar e nem o que sentir. Apenas queria sair correndo e voltar para a batalha, pois se fosse pra morrer que morresse então lutando por algo.

Era muito louco tudo aquilo: quando se achava uma razão, algo logo se perdia de novo. E assim ia. Cada minuto ia ficando cada vez mais insuportável, como se o obrigasse a lembrar-se dos seus companheiros mortos em combate. Dezenas deles, aliás. Então, cansado de tantas lembranças que não serviam de nada, sentou-se no momento seguinte, já fatigado pelas horas sem propósito. E por incrível que pareça não se sentia culpado. Não havia motivos para isso, pois se sentia um pouco morto também. E assim o tempo ia se arrastando, e a noite se aproximava como um lobo faminto. Densas nuvens faziam o céu ficar carregado e pequenas gotículas de chuva começavam a cair. Assim, resolveu deixar-se influenciar pelo escuro que vinha até ele, abraçando aquele infinito que era só dele. Acendeu um cigarro, e resolveu não pensar em mais nada.

    Aprendera que a esperança chega nas horas mais inoportunas."

 

Camila Carelli

Sem Tempo



"A felicidade não perde tempo com aqueles que não acreditam nela."

Camila Carelli

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015


Arco-Íris e Infinitos


 

Você não sabe, mas existe algo muito maior do que o infinito e algo muito mais exato do que os cálculos matemáticos. E isso quer dizer que talvez você encontre a resposta para a sua pergunta mais sombria no final do arco-íris que corre todo o horizonte detrás da sua casa. Ou talvez não. Talvez você passe o resto da vida se perguntando a respeito dos porquês e dos acasos. E conclua assim que os vazios são diferentes; sim, o meu vazio é diferente do seu... E não é por que é vazio que não pode ser colorido.

  Tão vazio quanto o arco-íris que surge diante dos seus olhos nesta manha tão breve. Tão ilusório quanto verdadeiro. E assim a vida vai correndo em passos apertados. Se cada segundo é tão breve então por que tantas dúvidas? Você tem ao menos certeza das suas dúvidas?

  Sim, essa abundância de cores é apenas reflexo daquela dor aguda e pouco passageira. E que trás a vontade de se fundir à tinta colorida dos céus toda vez que ela insiste em aparecer. Mas é assim e pronto. Um pouco confuso para quem já chegou ao final e um tanto mais angustiante para quem ainda está no começo.

  No entanto, a vida talvez seja apenas isso: um colapso de dúvidas e tormentos. A metade de um dia que demora a chegar, e que, no fim, termina em infinitos e aleatórios arco-íris.

Camila Carelli