domingo, 31 de maio de 2015


Do Alto do 3° Andar



Subir... Subir... Subir... E depois repentinamente cair. Entristecer-se como quem repudia o modo como a Lua se esconde detrás das nuvens. Isso parece tu, Guarnieri, quando te esqueces do real espaço que rondeia teus lábios. Isso torna o teu sorriso exageradamente largo, e os olhos estreitos a cada palavra que eu insisto em dizer. E tu desceste para o andar de baixo só por que eu sentei no teu sofá sem pedir licença. E assim as horas se arrastaram como aquele pedaço de esperança que se desfia dentre os teus dedos sem que tu ao menos percebas.

Sim, esta era a realidade, feita de pó sereno e muitas sombras escondidas detrás das cortinas. E depois fumaças rondeando os beirais das portas. E um silêncio muito escuro adentrava a sala toda vez que tu entravas ou saias. Tu precisavas sair, Guarnieri, pra decidir quem iria ficar ou sair. Pois a tua decisão não cabia comigo dentro daquela sala. Mentira, tudo mentira. Os andares trocaram de lugar desde a última vez que eu estivera ali? Talvez não, mas a insatisfação continua a te transbordar como nunca.

Sim, e daqui eu te vejo arrastando contigo todo o pó seco, as sombras apagadas e as mantas de solidão. Algo em ti não se manifesta como todo o resto. Tu gritas, mas ao mesmo tempo não percebes. A vida que vibra do lado de fora não se importa com os moradores deste prédio, Guarnieri. Isto aqui não é uma morada, e sim apenas lados distintos de uma mesma realidade. Assim como a moeda pendurada no teu peito. E tu nem ao menos sabe morar dentro da tua própria casa.

No entanto, eu fiquei ali observando as tuas tentativas de dizer algo. Repentinamente, exalando aquele ar resoluto, mas comedido, tu saíste porta afora. O silêncio, então, voltou retorcendo tudo ao redor. Tu agias como se três andares pudessem fazer toda a diferença, mas eu sabia que não.
Camila Carelli

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