Estava eu, daquela forma irregular
e confusa, andando vagarosamente ao lado da borda da linha do trem,
arrastando-me em direção ao caos. A guerra já havia me deixado há muito tempo,
mas eu sentia que a paz repousante ali me machucava muito mais. Meus olhos agora
se acostumavam com as cores novamente, com o mato verde vivo que ladeava a
estrada, cheio de macegas e árvores frondosas. O chão de terra batida não se
mostrava tão seco, e o ar que eu respirava se mostrava tão puro, que meus
pulmões pareceram dobrar de tamanho. Eu ia em frente, não me preocupando para
onde eu estaria indo. Meus pensamentos estavam calmos, mas ao mesmo tempo eu me
perguntava se não seria eu a pessoa errada; talvez o caminho certo não fosse
por ali. Mas naquela altura, qualquer questionamento, qualquer “talvez” era irrelevante.
Parei por ali mesmo, descarreguei meu fuzil das costas, que agora não parecia
tão pesado. Esperei. Tudo aquilo era como uma poesia robusta. Seria meu destino
ser parte daquele desalinho?
E foi assim que surgiu diante dos
meus olhos, já interrompendo qualquer ideia aleatória, uma figura se arrastando
por ali, saindo do meio do mato alto. Por um instante fiquei em dúvida, mas
logo conclui que era Mabelle. Os cabelos cinzas, como as achas, não deixavam
dúvida. Ela veio até mim, o vestido surrado, pálida, sem dizer uma só palavra. Olhei
para ela, e logo pensei que ela estivera escondendo toda a destruição por baixo
daquela imensidão verde. Ficamos assim, parados um ao lado do outro, totalmente
imóveis. Eu sabia, no fundo, que a presença dela ali representava alguma coisa;
talvez algo que o futuro viria a me mostrar. Procurei pelo horizonte, e achei
um sol que já estava se pondo. Já sabendo que teria que achar um caminho de
volta, dei uma última olhada ao meu redor: achei estranho que ainda houvesse
algo tão bonito no mundo.
Camila Carelli
Nenhum comentário:
Postar um comentário