domingo, 19 de abril de 2015


Estava eu, daquela forma irregular e confusa, andando vagarosamente ao lado da borda da linha do trem, arrastando-me em direção ao caos. A guerra já havia me deixado há muito tempo, mas eu sentia que a paz repousante ali me machucava muito mais. Meus olhos agora se acostumavam com as cores novamente, com o mato verde vivo que ladeava a estrada, cheio de macegas e árvores frondosas. O chão de terra batida não se mostrava tão seco, e o ar que eu respirava se mostrava tão puro, que meus pulmões pareceram dobrar de tamanho. Eu ia em frente, não me preocupando para onde eu estaria indo. Meus pensamentos estavam calmos, mas ao mesmo tempo eu me perguntava se não seria eu a pessoa errada; talvez o caminho certo não fosse por ali. Mas naquela altura, qualquer questionamento, qualquer “talvez” era irrelevante. Parei por ali mesmo, descarreguei meu fuzil das costas, que agora não parecia tão pesado. Esperei. Tudo aquilo era como uma poesia robusta. Seria meu destino ser parte daquele desalinho?

E foi assim que surgiu diante dos meus olhos, já interrompendo qualquer ideia aleatória, uma figura se arrastando por ali, saindo do meio do mato alto. Por um instante fiquei em dúvida, mas logo conclui que era Mabelle. Os cabelos cinzas, como as achas, não deixavam dúvida. Ela veio até mim, o vestido surrado, pálida, sem dizer uma só palavra. Olhei para ela, e logo pensei que ela estivera escondendo toda a destruição por baixo daquela imensidão verde. Ficamos assim, parados um ao lado do outro, totalmente imóveis. Eu sabia, no fundo, que a presença dela ali representava alguma coisa; talvez algo que o futuro viria a me mostrar. Procurei pelo horizonte, e achei um sol que já estava se pondo. Já sabendo que teria que achar um caminho de volta, dei uma última olhada ao meu redor: achei estranho que ainda houvesse algo tão bonito no mundo.
 
Camila Carelli

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