Não adianta tu te abaixares agora, Derquagot, depois que todas as balas espicaçaram por entre nossas peles. Retalhos de criaturas perdidas. E nem tentes fingir que não vês este sangue por entre teus dedos, vermelho e viscoso como o melhor licor, porque eu não vou deixar. Tu reconheces algo com isso? Não nascemos para rodar nestas diagonais. E eu não estaria aqui se tu não precisasses da minha mão na tua. Mas a minha roupa encharcou por culpa tua. Sem tempo para examinar teus erros, te deixei escolher o esconderijo preferido. E assim ficamos detrás deste tronco rombudo e cascudo, onde a mais astuta fera não nos encontraria; duas árvores cortavam as minhas vistas e escondiam o mistério à frente. E o preço agora é este céu recheado de tinta vermelha. Era uma vez o balão azul lá no alto, Derquagot.
Ensaiemos a resolução agora. A melhor resolução para limpar as mãos do sangue sujo. Segure quantos balões forem necessários, porque a marca não vai fácil. Não imaginei que a cena final seria tão pouco colorida. Tu erras, Derquagot, e eu fico sem entender. Não há motivo para as gotas que escorrem da minha boca e que azucrinam meus pés. Somos parte desta conta psicossomática, mesmo não fazendo parte desta tragédia ignota. Não se faz possível este momento; colorido em partes e negro por dentro. E nem adianta tu tentares limpar minha tristeza com tuas lágrimas, pois a minha luminescência se apagou no compasso do barulho dos fuzis.
Mas apesar de tudo, arruma isso e segue meus passos invadidos pela coxeadura. Um sibilo e eu acho que escuto algo. Prepara-te, Derquagot, para o som final. Mais uma bala perpassa nossos ouvidos e vai aos céus. Menos a minha alma nunca reinante sobre ninguém. Sempre assim. Mas tudo bem, nós sabemos.
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