Rosa na Lapela
Joaquim Flambon ainda insistia em usar aquela rosa vermelha na lapela esquerda de seu terno roto e amassado pelas muitas andanças no ônibus da cidade. E aquele sim poderia ser outro dia qualquer, se não fosse o encontro marcado no fim da tarde com o vendedor de nicotina perto do bar de esquina. O alimento do vício era um ótimo motivo para sair um pouco de casa. Então tirou o terno preto da cômoda corroída e sem brilho e tomou a condução rumo ao centro.
Chegou e ao descer na calçada viu que o vendedor ainda não estava ali. Esperou. E naquela inquieta espera a falta de nicotina começou a pesar em seus olhos, visto que o casebre do outro lado se transformou numa esplêndida adega. Talvez um gole de conhaque não fizesse mal. Como poderia perder tanta coisa de uma vez só? Não seria talvez aquela rosa vermelha a causadora de todos os seus males?
Camila Carelli